Mudar assusta

Foi por volta de meados de 2023 que finalmente decidi ir adiante com velhos planos de mudança física do Brasil. Que, diga-se de passagem, já era um devaneio antigo, mas que nunca levei muito a sério devido as dificuldades burocráticas e custos para mudar e se adaptar a outra cultura, costumes e mercado.
Inclusive um meio termo sonhado, que seria até mais agradável, era o de mudar para o sul do país, onde o clima frio me atrai bem mais, sem falar na cultura e qualidade de vida de algumas cidades do interior dessa região, principalmente Santa Catarina.
Entretanto, por mais que o sul do país fale comigo de maneira quase orgânica e simbiótica, ainda assim faz parte dos domínios de Brasília e seus espectros soturnos. Vampiros sugadores de vida, cuja sobrevivência depende única e exclusivamente da cegueira política da população, mantida silenciada e cativa há séculos por quem deseja a todo custo deter o poder.
Dramático, eu sei. Mas não deixa de ser verdade.
Como segunda opção seriam os Estados Unidos. Mas pra minha natureza segura e "conservadora" seria um "passo maior que a perna", pois os recursos aos quais disponho são escassos e inconstantes.
Sem mencionar o fato de não ter nada seguro por lá. Teria que procurar uma atividade com a qual pudesse me sustentar de início e ir progredindo aos poucos. E com quase 50 anos de idade já não dá mais pra exercer uma atividade com exigências físicas muito intensa, principalmente por estar sedentário há alguns anos.
Fora a burocracia e os custos legais que o país exige de imigrantes.
Então, não. Estados Unidos neste momento não seria a melhor opção.
Foi quando surgiu um borborinho sobre o Paraguai. País vizinho aqui do Brasil, fronteira com o Mato Grosso do Sul e Paraná, onde as condições de vida seriam bem melhores do que as do Brasil atualmente.
Apesar de ser uma região extremamente quente, mais quente até do que o Piauí segundo alguns, as condições seriam propícias para brasileiros que desejassem empreender e criar uma vida no país.
Com um imposto "único" (o I.V.A. - Imposto sobre Valor Agregado) de no máximo 10%, podendo ser até mesmo atingir 0% em alguns casos, com um governo mais voltado para o espectro centro direitista, de visão mais favorável ao livre mercado e com uma nova política migratória que facilitou bastante a entrada de brasileiros no país, o Paraguai vem se mostrando uma próspera aposta para começar aquela nova vida de quem muitos precisam.
Inclusive abrir negócio, desafio de muitos no Brasil, no Paraguai este pesadelo burocrático brasileiro se mostra mais uma limitação de vontade do que de entraves do governo. Lá é possível se abrir uma empresa em poucos dias, as vezes até horas, coisa que apenas a categoria de MEI no Brasil possui. O imposto continua sendo de no máximo 10%, porém se o lucro da empresa for de fonte advinda de fora das fronteiras este imposto é de 0%!

Asunción, capital do Paraguai. Foto tirada em 10 setembro de 2018.
Mas nem tudo são flores.
O Paraguai sobre bastante com a criminalidade próxima à fronteira com o Brasil (de onde vem os criminosos); é um país em desenvolvimento; a base de sua população se constitui de áreas rurais onde se fala apenas o guarani; a maior parte da população economicamente ativa se concentra em cidades como Asunción e Ciudad del Este; apenas uma pequena parte da população tem conta em banco, preferindo quase que exclusivamente o uso de moeda em espécia (o que pra mim não seria um problema); e a tão (mal) falada corrupção paraguaia na verdade é vista pelos locais mais como um "facilitador" do que um "problema". Muitos paraguaios, assim como os brasileiros, sabem que quando o dinheiro vai cair nas mãos do estado ele se perde e quase nunca volta para os cidadãos. Até mesmo servidores públicos tem essa visão sobre as políticas dos cargos mais altos da máquina pública. O que eles fazem é oferecer uma ajuda para que a pessoa consiga atingir seus objetivos em troca de um valor "simbólico" pelo serviço. Este valor fica com o "prestador" do serviço e não vai cair nas mãos de políticos e burocratas do alto escalão.
Mas não é sempre que isso funciona. Existem prestadores e prestadores. Os mais "federais" raramente se prestam ao serviço de "facilitar" a vida das pessoas. Geralmente quem tem essa visão são os funcionários que estão mais na "ponta", em contato com a vida real das pessoas e não em bolhas de poder.

Ciudad del Este, centro comercial mais famoso do Paraguai. Foto da Ponte da Amizade.
Pra encerrar, quero dizer em breve estarei a visitar este país, sentir seu clima (no sentido humano e de temperatura), saber por que muitos brasileiros desejam tanto morar neste país que se destaca como uma ilha de sanidade e prosperidade em meio ao turbilhão de loucura e insensatez no qual a América Latina (e quiçá o mundo) vem se tornando.
Ao regressar vou colocar aqui minhas impressões do pouco que conhecer desse país.
Se valer a pena, lá estarei a fincar morada no futuro.